
O Brasil e o Mercado das Bets: Quem é o Trouxa da História?
Por: Marcos Júnio Ribeiro
Crescimento das bets no Brasil
Vou começar nossa prosa de hoje com uma constatação que muitos de vocês já devem suspeitar: o Brasil se tornou um dos principais mercados de apostas online do mundo. Basta abrir o computador ou o celular para ser bombardeado por dezenas de propagandas das chamadas bets, as casas de apostas. Atualmente, a maioria dos times da Série A do Brasileirão tem como principal patrocinador alguma bet. Milhares de influenciadores digitais promovem essas empresas, e as emissoras de televisão também embarcaram nessa onda, algumas, inclusive, cogitam lançar suas próprias plataformas de apostas. Segundo reportagem da Veja, a receita anual estimada das bets que operam no Brasil chega a impressionantes 4,9 bilhões de dólares.
Mas qual é o problema disso tudo?
O problema é que ninguém te contou, e provavelmente não vai contar, é que as bets existem para fazer você perder seu dinheiro. Certa vez um filósofo desconhecido da internet disse:
"Todo dia sai um trouxa e um malandro de casa."
Seu influenciador favorito vai lucrar, as emissoras de TV vão lucrar, seu time do coração vai lucrar, e você? Vai pagar a conta. É duro dizer, mas se você aposta em bets, você é o trouxa. E o seu influenciador favorito está te enganando.
Como funcionam as bets?
Para entender por quê, vejamos como funciona uma aposta.
Imagine um jogo de cara ou coroa, em que cada resultado tem 50% de chance. A aposta justa pagaria 2 vezes o valor apostado (1/0,5 = 2). No entanto, as bets oferecem odds menores, como 1,91. Essa diferença é a chamada margem da casa (overround). Isso significa que, mesmo em jogos equilibrados, o apostador tem um ganho esperado negativo — no exemplo, -0,045. Em outras palavras, se você apostar repetidamente, suas perdas serão inevitáveis. Afinal, em qualquer cassino do mundo vale a velha máxima: "Quando você joga contra a casa, a casa sempre vence." Em apostas esportivas o funcionamento é bastante semelhante.
A armadilha da ilusão
A baixa escolaridade média da população brasileira, especialmente em comparação aos países desenvolvidos, cria um terreno fértil para a proliferação desse tipo de negócio. Em um artigo sobre o charlatanismo, afirmei que promessas de ganhos fáceis sempre atraem os desavisados, e os prejuízos aparecem no longo prazo. Uma reportagem do G1 mostra que 42% dos brasileiros que dizem apostar estão endividados, e um terço deles está fora do mercado de trabalho. Agora imagine: uma pessoa pega dinheiro emprestado a juros altos para apostar e perde tudo. Essa é, literalmente, a receita da ruína.
Segundo o Valor Investe, cerca de 23 milhões de brasileiros apostam em bets, mais do que o número de pessoas que investem em bolsa de valores ou em CDBs. Isso mostra a gravidade da situação.
Educação é o caminho
Na minha visão, o caminho mais promissor para frear o avanço das bets é a educação, especialmente a educação financeira. Os professores precisam abrir as cabeças dos alunos e colocar lá dentro um letreiro com os seguintes dizeres:
"NÃO SEJA O TROUXA!"